*Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá
A Contabilidade, como é vocação da maioria das ciências, possui aplicações diversas; dentre todas, todavia, aquela que mais se manteve fiel às doutrinas é a relativa às decisões administrativas, pois, é onde não se pode tergiversar sobre a “realidade”.
Os conceitos atribuídos a matéria referida, entretanto, nem sempre foram unânimes; a expressão Contabilidade Gerencial surgida nos fins da primeira metade do século XX foi aceita, modificada e transfigurada ao longo do tempo.
Os estudos referidos seguiram o mesmo destino sendo de feições pragmáticas, científicas e científico-filosóficas, todos a um só tempo, de acordo com os graus intelectuais e culturais dos que desenvolveram os temas.
Uma distinção inequívoca, todavia, surgiu entre o que se tinha como “informação financeira” e “informação gerencial”.
Na realidade originariamente o caráter distintivo evidente se operou no início do século XIX, mas, a estruturação de natureza prática e doutrinária só se intensificou quase um século depois.
Como Contabilidade não é informação, mas sim, esta é simples instrumento daquela, muitas confusões e divergências ocorreram e ainda ocorrem; a informação muito se comprometeu após a introdução das Normas feitas ao sabor pragmático, várias volvidas a ensejar mascaramento de dados, como desde a década de 70 acusou o senado dos Estados Unidos e como na atualidade se evidencia nas crises dos mercados.
A pouca cultura sobre as bases da lógica e científicas quanto à matéria conceitual normativa, respondeu pela deficiência de qualidade epistemológica.
Entre os que consideraram o tema apenas como maneira de informar e controlar e os que o admitiram tratar-se da aplicação de uma ciência que exige rigores, dividem-se até hoje as opiniões.
Há, inequivocamente, uma diferença entre: 1) apenas informar para gerar decisão e 2) orientar para decidir, ou seja, entre a 1) passividade e omissão de opinião ou explicação diante de fatos e a 2) participação no processo, oferecendo metodologia e diretriz a ser seguida.
Tais distinções oferecem meios para julgar os conceitos emitidos.
Não basta um sistema sofisticado de informação para fins administrativos; necessário que ofereça intelecção e seja explicativo, ensejando condições de orientações; a informação não orienta por si mesma, nem tem condições de gerar interpretações se não é analisada por quem possui competência e especialização.
As primeiras obras e estudos tenderam a admitir a Contabilidade Gerencial como aplicada a tomada de decisões administrativas, dando ênfase e até uma prioridade às áreas de apoio ao governo dos custos para a obtenção de lucros, como a tratou Keller .
O entendimento básico sobre o apoio ao administrativo foi centralizado em grande número de obras ao setor de custos primordialmente como se pode constatar, por exemplo, pelo desenvolvido por Bierman e Drebin .
Tal vocação seguiu por longo tempo e ainda hoje pode ser constatada, embora em nosso entendimento tenha recebido novas contribuições no sentido de uma ampliação conceitual, mesmo no campo pragmático.
Assim se percebe no que acena Anthony, quando de forma hialina no Capítulo 1 de sua obra lecionou que “A Contabilidade Gerencial que constitui o foco deste livro, preocupa-se com a informação contábil útil à administração .”
Ao complementar alegando que a utilidade referida era aquela destinada a “solução de problemas administrativos", embora sem objetivar, deu oportunidade de entendimento genérico.
O autor referido, entretanto, não só deixou de desenvolver seu trabalho seguindo a doutrina científica, como não ensejou ao mesmo a amplitude que posteriormente viriam outros intelectuais da Contabilidade atribuir.
Padronização, todavia, à qual Anthony se ligou foi a tradicional de sua época (década de 60); parte do que expôs, entretanto, não se alterou até hoje expressivamente.
Como progresso a questão, todavia, ampliou-se à previsão, controle, análise e interpretação, desenvolvendo o tema autores de valor como Brown e Howard .
Embora ainda despido de teor rigorosamente epistemológico, sem o alcance que os recursos científicos oferecem, a volumosa obra referida mereceu uma especial consideração como contribuição ao progresso da Contabilidade aplicada aos fins administrativos, preocupada que esteve em apresentar a parte objetiva do tema, inclusive quanto à praticidade.
Implicitamente o trabalho dos aludidos autores poderia ter representado maior evolução se seguisse a uma dilatação de conceitos, mas, mesmo assim não se lhe pode negar valor.
Não é de atribuir-se demérito à forma conceitual com que a denominada Contabilidade Gerencial evoluiu, apenas por haver-se centrado no lucro e decorrência natural na visão analítica dos custos; os conhecimentos se formam por sedimentações e nem sempre se completam; a ciência está sempre carente de adições.
O segundo passo que naturalmente se agregou ao conceito contábil nesse particular, embora cientificamente o assunto já tivesse sido enfocado por Zappa na década de 40, só viria mais tarde, ou seja, na consideração específica de análise de um sistema no qual tanto é relevante o custo quanto a receita, como se pode encontrar já na década de 70 na obra de DeCoster e Schafer .
As óticas sistemáticas que os italianos acenaram na primeira metade do século XX, de grande valia intelectual só muitas décadas depois os anglo saxônios as considerariam no que tange à matéria contábil.
Hoje, todavia, para fins de aplicação à gestão dos negócios, muito cuidado é preciso ter com as informações recebidas, pois, se baseadas em normas como as ditas internacionais, podem ser imprestáveis, como o Goldman Sachs, um dos maiores analistas na maior bolsa do mundo ostensivamente declarou em meados de 2008.
*Autor: Antônio Lopes de Sá
Contato: lopessa.bhz@terra.com.br
Doutor em Letras, honoris causa, pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres, Inglaterra, 1999 Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, 1964. Administrador, Contador e Economista, Consultor, Professor, Cientista e Escritor. Vice Presidente da Academia Nacional de Economia, Prêmio Internacional de Literatura Cientifica, autor de 176 livros e mais de 13.000 artigos editados internacionalmente.